Ao olhar para estas imagens o primeiro pensamento que tive foi: “Porque é que não há uma H&M assim em Lisboa??”. Bem, tristezas à parte, esta loja é de facto alimento para os nossos olhos, com um projecto de design destinado a criar entusiasmo entre os clientes, a excitação em comprar roupas num ambiente destes é bem maior.

Sendo o primeiro objectivo deste projecto criar um ambiente confortável e exclusivo, o segundo passa por a roupa encontrar o seu próprio lugar, a distribuição da loja deve ordenar a exposição das roupas e das rotas – o design ao serviço da actividade da loja e nunca o contrário.

Situada na rua mais comercial de Barcelona, Portal de l'Angel, num edifício que é um vestígio da arquitectura burguesa do final do século XIX e é um projecto do arquitecto Domenech Estapà, que se opôs ao movimento Modernista e era mais inclinado para um estilo neo-clássico.

Estudio Mariscal foi o atelier escolhido para desenvolver este projecto em todas as suas premissas, desde a arquitectura, mobiliário, design gráfico, até aos sacos de compras.

Pelo estilo arquitectónico e pelo facto de ser um edifício com valor histórico o projecto ficou desde cedo muito condicionado, mas segundo os arquitectos foi uma oportunidade única de trabalhar um espaço com proporções novecentistas, de uma época em que os metros quadrados não eram medidos em termos de rentabilidade, daí a enorme escadaria e o espaço central vazio que chega à cúpula. A mudança de utilização do edifício foi outro factor condicionante para o projecto. Converter uma área destinada a escritórios de uma empresa importante (Catalana de Gas) numa loja de roupas modernas destinada, principalmente, aos jovens, amantes das últimas tendências não foi tarefa fácil. Esta abordagem condicionou o projecto, tentando conciliar o "velho" com o "novo". Os projectistas fizeram um grande esforço para recuperar o prédio, destacando os aspectos que, ao longo do tempo e os diferentes usos do edifício, na sua última fase, tinha sido removido ou alterado.

Conceberam uma arquitectura efémera interior, composta por recursos que podem ser adicionados e removidos. A segunda pele foi sobreposta sobre a arquitectura antiga, criando uma nova imagem, sem desfocar o original. O que poderia ter sido um obstáculo ao longo do projecto, tornou-se um incentivo, uma vez que os ajudou a conseguir um espaço polivalente, que é flexível, modular e versátil. O objectivo, em todos os momentos, foi a de dar a máxima importância ao produto – mostrar as colecções H&M da melhor maneira possível, razão pela qual a segunda pele é neutra, a preto e branco.

Com 1720 m² a monotonia poderia existir mas tal não acontece e isso deve-se ao layout ritmado. Não é apenas um ritmo no aspecto formal, mas também na intensidade com que cada área é experimentada. Para isso, existem surpresas, mudanças de clima, cada um com personalidade própria, diferente da anterior. Desta forma, o percurso é mais dinâmico, já que cada canto cria expectativa. O objectivo foi acrescentar um "plus" de divertimento e emoção para os clientes H&M. Criaram móveis que respondem a esta necessidade modular, usando metal que se sobrepõe e contrasta com a madeira original e a pedra.

Na entrada, começa-se com uma explosão de luz, cor e movimento, através das telas LED. Esta entrada funciona como uma vitrine, distintiva mas acessível. A comunicação entre o interior e o exterior, o que normalmente acontece através da janela da loja, neste caso, consiste numa vitrine virtual. Para respeitar a fachada, o logótipo ficou reduzido ao mínimo.

Nas salas do primeiro andar do edifício o contraste entre o velho e o novo fica mais evidente, pois os expositores de madeira, as chaminés e o estrado de madeira originais foram preservados para compartilharem o espaço com o mobiliário novo em metal. A escadaria e a cúpula são duas características muito importantes da alteração. Enfatizou-se a escada, o vazio criado pela escada. Este átrio central comunica o piso 0 e permite que a luz natural entre no interior do edifico. O cone é uma metáfora, um símbolo de subir para as alturas, uma espiral em direcção ao céu para captar a luz. Na cave a série de cactos, em formas orgânicas, estofados em materiais com cores brilhantes dão carácter aos espaços.


 
É importante reconhecer, num projecto como este, a liberdade criativa que a H&M deu aos arquitectos durante todas as fases do projecto, só assim e com um bom relacionamento arquitecto/cliente é possível chegar a um final com tão elevada qualidade espacial.
 

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